Manifesto pela Cultura – por Diego Albuquerque Melo

            Cultura? Cultura, pra que?! Essas eram as perguntam que mais me atormentavam, cresci com elas. Enquanto somos crianças, com aquela inocência doce, queremos apenas brincar de teatro, brincar de música, de dança e rabiscar em folhas brancas de papel, a gente só pensa que tudo seja uma grande brincadeira. Depois que chegamos à adolescência achamos que a arte seja nosso único refúgio. É exatamente aí que percebemos o grande papel que a cultura tem em nossas vidas, nos fazendo ver um mundo antes nunca desbravado, um mundo onde tudo pode ser transformado e criado.

            Quando se mora longe dos centros expandidos das grandes cidades cultura é luxo, enquanto para eles do outro lado é direito, deste lado da ponte cultura é coisa “cara”, lá é programa de final de semana. A cidade, e principalmente São Paulo, se coloca como um centro urbano exclusor, seja deixando a periferia longe do bem público e cultural ou até mesmo aprisionando a cultura periférica à margem da produção artística.

            Eu sempre fui um menino muito confuso, tímido e inseguro, mas muito apaixonado por aquele mundo de fantasias que as aulas de arte nos primeiros anos do Ensino Fundamental me traziam. Descobri ali aos oito anos as primeiras experiências intensas com a dança (no Projeto Vizinho Legal Cultura, atual Projeto PALCO); de lá pra cá esses laços com a arte só afloraram, me levando a descobrir o mundo encantador da música. Devo admitir que tudo isso me encantava, mas quando me sentei pela primeira vez em uma poltrona de teatro, aquilo foi avassalador para meus sentidos. Aquele menino se perguntava como aquilo que parecia tão simples podia ser tão mágico. Havia começado ali algo que mudaria minha vida, aquela peça teve o poder de me aproximar do teatro na escola, nas primeiras aulas eu já me sentia pertencente e seguro naquele ambiente e com aquelas pessoas. Logo depois, já na Cia. de Teatro do Projeto PALCO tive a primeira experiência cênica em um palco de teatro, aquele frio na barriga misturado com muita emoção e felicidade me fizeram perceber como o teatro podia me proporcionar momentos prazerosos para além da posição de expectador.

            O teatro, a arte e a cultura só me proporcionaram momentos únicos e experiências maravilhosas durante esses 12 anos. Realizei muitos sonhos, e sem dúvida o maior deles, trabalhar em um grupo profissional e nas mãos do mestre, Antunes Filho. Conheci muita gente, muitos lugares e me apropriei mais de mim mesmo.

            Quem diria que aquele menino de oito anos, calado e tão inseguro pudesse atravessar a “ponte” e se transformar no protagonista da sua própria história. Alguns até duvidavam, mas ele o fez. Hoje já com 20 anos e com uma mochila ainda cheia de sonhos, não me canso de pensar quantas crianças, adolescentes e adultos pude alcançar fazendo o que mais amo, afinal, o que é o teatro sem o outro.

            A cultura é sim uma ferramenta poderosa de transformação na sociedade, sou prova viva que isso é possível. Muito me entristece quando vejo a cultura e a arte sendo tratadas como algo supérfluo. Em um momento tão difícil de crise política, econômica e de identificação vejo na arte, mais que nunca, o ambiente para se discutir e refletir saídas para esse cenário.

            Que dessa vez a letra do grande Cazuza não seja profética, como na música “O tempo não para”, no trecho “ Eu vejo o futuro repetir o passado”. Prefiro me manter otimista para as próximas cenas dessa verdadeira “tragédia grega”, ou melhor, “tragicomédia à brasileira”.

PELA CULTURA E ARTE TRANSFORMADORA NOS MANTEMOS FIRMES E CONVICTOS!

VIVA A CULTURA!