A última de todas, por Felipe Stoner
A última de todas, por Felipe Stoner
Ao caminhar de volta para casa, depois de um longo dia, com o calor queimando meu corpo e fazendo minha alma transpirar algum tipo de alívio, só quero chegar em casa, arrancar essa segunda pele presa em mim e apenas relaxar...
Não entendo o porquê de meu lar ser tão quente, acordo no dia seguinte para mais uma aventura e reparo em detalhes que não havia percebido antes. Por acidente, ouço uma simples conversa entre vizinhos, eles apenas querem derrubar uma árvore, ela está atrapalhando a passagem na calçada, além de cobrir um dos portões da vizinhança, dizem que é muito perigoso se chover...
Pensando melhor depois de observar mais, vejo que essa árvore é a única que existe na rua, as outras não crescem mais, estão extintas por camadas de asfalto e cimento. E mesmo assim, a pequena árvore continua a se transformar, a cada estação.
Em um dia normal como outro, tropeço e despenco sobre a rua, o impacto nunca é agradável, mas se houvesse mais grama ou um pouco de verde, acredito que eu e ninguém mais sofreríamos tanta dor, mesmo que seja um simples tombo.
Agora sei o motivo de tanto calor e mesmo assim continuam querendo destruir a própria respiração, acabando com o último ventilador natural que existe ali, transformando em nada apenas o que estava para ajudar, o único retrato de beleza que o quarterão ainda tinha. Afinal, aquela árvore é muito perigosa...
Felipe Stoner participa das aulas de teatro e música do projeto. As aulas de música têm dialogado com o manifesto do artista austríaco Hudertwasser.